HABEMUS MÉDICO DE FAMÍLIA

Sim, meus amigos. É possível ter um médico de família. Tivemos de esperar 10 meses mas finalmente e felizmente nosso nome chegou no topo da lista de espera e agora temos alguém que teoricamente cuidará do nosso prontuário médico.

Eu já comentei aqui que nosso maior medo sempre foi em relação ao sistema de saúde. Já ouvimos relatos amedrontadores e as sugestões eram de que boa parte desses problemas seriam resolvidos caso a gente conseguisse um médico de família. E como quem tem
criança em casa não pode pagar pra ver, uma das primeiras medidas que tomei quando chegamos aqui foi inscrever-nos na lista de espera. Aconselho. Para isso é preciso saber qual o CSSS da região onde você mora. Uma pesquisa rápida no Santé Montréal te ajuda nisso. O CSSS é o organismo que está no topo de todo sistema de saúde e que reagrupa
hospitais, clínicas, laboratórios, etc. Cada CSSS é responsável pelo controle do sistema de uma região. Dessa forma cada cidadão terá seu atendimento feito dentro dessa área. Se você muda de bairro enquanto está na fila e passa pra outro CSSS, azar. Eles migram sua inscrição pro CSSS respectivo e você volta pro final da fila. Isso aconteceu com a gente.

Não sei se existem listas de prioridade para famílias com crianças ou qualquer outro tipo de privilégio. Mas achei bem curto o tempo de espera. Um belo dia me ligam et voilà… Dias depois recebo em casa os detalhes da consulta para todos os membros da família. Local, data e hora. Menos de uma semana de espera. Gostei. Uma clínica que faz parte do Groupe de Médicine de Famille (GMF) situada dentro de um hospital que é referência na cidade e há menos de 10 minutos de casa. Tudo indica que estaremos em boas mãos. Assim espero.

As consultas foram básicas, para preenchimento do prontuário e histórico. Profissionais atenciosos mas sem aquele extra que estamos mal acostumados. Ou seja, guia de exames só para aquilo que realmente representa uma necessidade ou interesse médico e… au revoir! A instrução de base é: se nada de mau acontecer te vejo só no ano que vem. Achei prático, mas frio. É assim que é.

No geral fiquei satisfeito. Veremos como funcionará na prática mas sempre esperando não precisar de nada.

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NEVE. NEVE. NEVE.

É o assunto do momento. Não só entre os brasileiros, todo mundo. O inverno nem começou e já tivemos dias de muita neve. Coisa linda de ver. Não tão linda assim pra quem perde o
autobus ou precisa pelletar o carro de manhã cedo, mas vá lá… é um espetáculo à parte. Começo de inverno deve ser sempre assim, todo mundo feliz quando caem os primeiros
floquinhos. Quero ver em Abril…

Bem, todo blogueiro que se preza já explorou um pouquinho o trabalho de déneigement na cidade. Aquela história dos caminhões e máquinas passando pelas ruas e calçadas e deixando a cidade em condições de circulação. Um trabalho difícil mas muito bem organizado. Todo mundo já comentou, já fez vídeo, coisa e tal. Aí que essa semana saiu um outro vídeo que achei interessante. Ele mostra igualmente esse trabalho nas ruas mas também mostra algo que eu sempre me questionei quando via aquele monte de caminhões levando aquela neve já recolhida pra um não sei onde. Tá aí a resposta:

 

 

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HSBC CANADA E SERVIÇOS BANCÁRIOS

Pra passar a régua no tema HSBC.

Após 10 meses utilizando os serviços do HSBC por aqui já me sinto bem à vontade pra dar meu veredicto no assunto e contribuir (ou não) com aqueles que ainda não se decidiram sobre o quê fazer com seu rico dinheirinho na hora da mudança.

Pois bem, pra quem não lembra, eu contei aqui a nossa história com o HSBC no BR. As dificuldades, as soluções, as opções… tá tudo lá. Hoje eu encerro o assunto falando do serviço HSBC Premier oferecido do lado de cá.

Algo que todo mundo já deve saber é que existem poucas agências em Montréal. Por isso se você é daquelas pessoas que vai o tempo todo ao banco ou ao caixa 24 horas, é possível que você encontre uma certa dificuldade dependendo de onde vai morar/trabalhar. Contudo, o HSBC oferece a rede ATM da Banque Nationale, que é bem mais extensa, para saques e consultas, com um certo limite mensal mas que quebra o galho. Por outro lado aqui os horários de atendimento bancário são bem mais flexíveis do que no BR e tem
agência que abre até no sábado.

O atendimento foi muito bom mesmo com uma pisada na bola enorme quando eu marquei um rendez-vous com o gerente, esperei por quase 2 horas e ele nem apareceu pra pedir desculpas pelo atraso. Mesmo assim sempre que precisei de ajuda ou informações do pessoal de atendimento ou pelo telefone as coisas funcionaram muito bem. No mesmo período eu travava uma luta constante e diária com a minha gerente no BR que nunca estava disponível, ou não sabia/podia me ajudar, enfim. Um caos.

Parece que eles têm alguém que fornece atendimento em português aqui mas nunca precisei então não posso confirmar. No início a gente precisa mais do suporte deles para desbloquear cartão de crédito, saber como funcionam os serviços, sites, etc. Mas tudo
sempre correu dentro do normal, nada excepcional. Hoje, é raro precisar de algo que não seja feito pelo ATM ou pelo site.

No mais posso dizer que vira-e-mexe RBC, Scotia Bank e Desjardins divulgam programas voltados para os nouveaux arrivants, ou seja, pacotes com descontos para atrair novos clientes. Algumas vezes me senti até atraído por esses pacotes mas como em time que
esta ganhando não se mexe…

Meu veredicto: o HSBC Premier, com todos as suas dificuldades no atendimento e as altas exigências ainda é (infelizmente) a maneira mais segura e mais vantajosa de se migrar a sua vida financeira pra cá.

Pra finalizar, 3 fatos interessantes à notar. O primeiro é que a gente ouve muito falar que o sistema bancário aqui é menos desenvolvido do que no BR. De fato tem algumas coisas que parecem do saídas das cavernas se comparando, mas isso jamais nos afetou na prática. Segundo, que é muito importante pedir ao seu gerente para ligar o seu número de NAS à sua conta canadense/cartão de crédito o quanto antes para que seu dossier de crédit comece a ser construído. E terceiro: é indescritível a surpresa e sensação de segurança toda vez que a gente recebe un chèque pelo correio. Mais uma coisa que leva tempo pra se
acostumar mas que fazem a diferença quando a gente para pra pensar.

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PONTE FECHADA…

…pas de problème!

O anúncio na semana passada de que a Pont Champlain seria fechada parcialmente para obras nos próximos dias causou furor na cidade. Principalmente para aqueles que moram na Rive Sud e trabalham/estudam na ilha, ou vice-versa. Esta é apenas uma das quatro pontes que ligam Montréal com as cidades do sul mas uma das mais movimentadas também. Portanto o furor se justifica.

Eis que numa adversidade dessas surge uma iniciativa que a gente nem acredita: transporte público gratuito.

A AMT, em colaboração com a RTL e a STM, e o apoio da Mobilité Montréal, decidiram oferecer um cartão com 10 passagens gratuitas para incentivar as pessoas afetadas pela obra a utilizarem o transporte público. Sem complicação, sem burocracia nem 1001
exigências. Basta entrar no site, inserir o código promocional, nome, endereço e telefone, e
receber seu cartão em casa, sem custo. Dá pra imaginar essa mesma iniciativa, por exemplo, numa certa cidade da América do Sul a qual conhecemos bem?

Coisas como essa acho que levarão anos para que a gente se acostume.

Isso vai fazer com que o congestionamento e as dificuldades de locomoção desapareçam? Certamente que não, mas já ajuda muito. Além disso esses órgãos prometeram colocar mais trens e autobuses em circulação para dar conta do aumento previsto de 15% no
número diário de passageiros.

Assim dá gosto.

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A VIDA SEM CARRO vs. A VIDA COM CARRO

Lá no início a nossa meta era permanecer no mínimo durante 1 ano sem carro. Primeiro, porque, afinal, nos mudamos para uma cidade onde o transporte público existe e precisamos usar e abusar disso. Segundo, por que escolhemos morar numa região bem
servida em matéria de transporte público e perto de tudo o que precisamos. E finalmente, para darmos uma forcinha pra Mãe Natureza, certo?

De fato o serviço público de transporte é bem administrado e se não é perfeito ao menos funciona muito bem, obrigado. A primeira coisa que impressiona é a pontualidade. Em 90% das vezes que você consultar o horário do seu autobus no aplicativo da STM, pode crer que lá ele estará. No inverno, isso faz uma enorme diferença. Passamos nossos primeiros meses gelados totalmente dependentes de ônibus e metrô. Logo nos acostumamos com um cordial ‘bonjour’ a cada vez que embarcávamos. Mas se por um lado sobra acessibilidade nos ônibus para carrinhos de bebê e pessoas com necessidades especiais, esqueceram de contemplar a rede subterrânea com a mesma regra. Ir e voltar debaixo da terra pode ser uma operação complicada. Poucas estações têm elevadores e em alguns casos não há escadas rolantes. Como faz? Haja braço! Mas vemos muitas estações em obras e a esperança é de que isso se reflita em acessibilidade para todos. Os trens em si são bem velhinhos. No lugar dos trilhos, pneus. É o primeiro impacto negativo para quem chega de SP, onde temos estações bonitinhas e trens novinhos em folha… porém abarrotados. Conto nos dedos quantas vezes peguei metrô cheio aqui. Atenção, eu disse cheio e não em lata de sardinha mode on. Isso ainda não aconteceu.

Resumo da nossa vida sem carro: dá pra viver aqui tranquilamente sem ter um automóvel. Além de te levar em quase todo lugar, é mais barato e funciona. Em situações específicas, como numa viagem ou para uma compra mais pesada, existem opções de covoiturage e vários programas de aluguel de carros para todos os bolsos. Além disso, Montréal foi eleita a melhor cidade nas Américas para o ciclista. Quando chega a primavera e até o final do outono as magrelas invadem as ruas. É lindo de ver e saber que isso é possível numa metrópole.

OK, se é tão mil maravilhas assim, por que é que eu comprei um carro? Um fator pesou na nossa decisão: família. Percebemos que tudo o que foi descrito até aqui funciona perfeitamente pra quem é solteiro ou para um casal sem filhos. No nosso caso, com uma
criança pequena e um adolescente a coisa muda. Ir ao mercado para as compras da semana, apenas para citar um exemplo, não é tarefa das mais agradáveis mesmo morando perto do dito cujo. Carregar compras de uma ou duas pessoas é sussa. Agora dobre esse volume sem dobrar o número de braços pra carregar e imagine a dificuldade. E pense na mesma atividade num frio de -20C… Bom, né?

Além disso, com um carro a gente ganha mobilidade e pode, por exemplo, pesquisar preço por aí sem ter que se entregar pra primeira oferta que aparece. Pra quem é economista, como a gente, isso faz a diferença também. Outra necessidade que sentíamos é a de explorar mais a cidade e os arredores. Já estavámos há mais de 8 meses percorrendo diariamente os mesmos caminhos, muitas vezes por baixo da terra. Chega um ponto que fica tão chato que você nem conhece direito a cidade onde mora. E poder colocar todo mundo dentro do carro, com tralhas de criança e tudo o que tiver direito, partir (ou voltar) rapidamente, facilita demais a vida. Só quem tem filhos sabe.

Portanto, na nossa concepção, salvo se você tem crianças, não há necessidade de ter um automóvel em Montréal. Ou pelo menos, você não precisa sair correndo pra comprar um. Ou talvez tudo o que eu disse até agora é besteira e o bom mesmo é fazer tudo à pé.

E não vou nem comentar a facilidade em matéria de preço e financiamento. É tentador! Ainda mais pra quem amargou um Golzinho 97 nos últimos anos dando problema mês sim e outro também.

Não vou alongar ainda mais o post com o assunto da carteira de motorista nem sobre achat/location de veículos já que há inúmeros blogs que exploraram suficientemente esses temas na comunidade. Mas quem quiser deixar aqui sua dúvida ou pergunta, responderei com prazer.

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MONTRÉAL TEM UM NOVO PREFEITO

Todo mundo aqui sabe, ou deveria saber, que nos últimos meses a cidade de Montréal teve nada menos do que 3 prefeitos. Envolvido em casos de corrupção, o primeiro, Gerald Tremblay, pediu pra ir pro chuveiro mais cedo. Foi um escândalo que acompanhei ainda no
BR. Seu sucessor, Michael Applebaum, foi declarado culpado em affairs suspeitos e só faltou sair algemado da Prefeitura. O terceiro, finalmente, ficou lá quietinho esquentando o banco até agora, momento da eleição. Eu nem lembro o nome dele.

Sai que tua, Denis Coderre!!!

Sai que é tua, Coderre!!!

Fait que no domingo passado houveram eleições municipais e Denis Coderre sagrou-se vencedor e por isso tomará as rédeas da cidade pelos próximos anos. Foi uma eleição com número recorde de candidatos. Algum apelo público para que os eleitores fossem às urnas
escolher seu mandatário. Mas um desavisado passaria tranquilamente pela cidade sem saber que o pleito estava por vir. Pouco se viu em matéria de marketing político pelas ruas, comparado com o que estamos acostumados. Sujeira quase zero. Eu não via sequer as pessoas debatendo o assunto nas ruas ou as via pouco interessadas. Isso me causou uma certa de estranheza pois eu imaginava que o povo daqui fosse um pouco mais politizado. Não foi o que vi, pelo menos não agora.

Pra falar a verdade eu também não acompanhei de perto a campanha. Primeiro, porque ainda não tenho direito ao voto. Segundo, porque, bem… eu tinha mais o que fazer. Um patrão pra impressionar, uma casa pra ajeitar, uma filha pra cuidar. Vocês sabem como é. Mas, como gosto de acompanhar a cena política, eu consegui ler um artigo ou outro no jornal e tentei me posicionar à respeito. Se por um lado eu me identifiquei mais com as propostas de M. Coderre que com as dos outros candidatos, por outro o que se ouvia é que ele faz parte da panelinha que afundou a cidade nos últimos anos com a máfia da construção civil. Ou pelo menos, que pessoas ligadas à ele e à sua campanha estão em parte responsáveis por tudo isso que aconteceu. Por isso, não sei o que esperar.

O que podemos fazer é manter a esperança de que essa sujeira não seja varrida pra debaixo do tapete. Que a Commission Charbonneau não acabe em pizza poutine. E que de fato os rumos da cidade que estamos aprendendo a amar estejam em boas mãos. Temos problemas graves aqui, num grau talvez menor dos que tínhamos no BR. Mas temos. O medo meu é que maus governantes acabem optando pelas mesmas vias que certos Malufs, Lulas e Sarneys tomaram no meu país e que com isso a coisa desande de vez. Attention, M. Coderre! Não estamos dispostos a mudar de país de novo, OK? Então, muda Montréal!

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BOO!

O Halloween passou e agora eu tenho tudo pra apostar que essa será minha festa favorita daqui pra frente. Confesso que sempre torci o nariz pra essa festa no BR, uma comemoração sem pé nem cabeça, me desculpem a piada pronta. Enfim, nada a ver com nossa cultura. Mas se fosse pra importar uma festa horripilante, bom… eu sempre preferi (e ainda prefiro) a Fiesta de los Muertos, mexicana, cheia de simbolismos e por isso mesmo muito mais interessante.

Mas agora, não teve como não entrar no clima ao ver as fachada das casas enfeitadas com aquelas abóboras macabras, caveiras e fantasmas. Aqui o clima é outro e parece propício pro Halloween. Todo mundo prepara seu déguisement, crianças e adultos, com todo cuidado e carinho. Laís e Lorenzzo participaram e voltaram pra casa de bolso cheio. Trick or treat? Mas eu, que adoro uma festa à fantasia, marquei bobeira. Achei que o pessoal do escritório não ia levar a coisa à sério e não me preocupei nem em comprar uma máscara. Fica pro ano que vem! A chuva estragou um pouco a brincadeira das crianças, eu acho. Mas foi legal morder a língua, deixar-se surpreender e aprender a gostar do Halloween. Resumindo grosseiramente, hoje classifico o Halloween como uma mistura de Carnaval com a festa de São Cosme e São Damião. E não, é?

O mês de Outubro leva embora também outras coisas nas quais debutamos. O verdadeiro outono, por exemplo, como aprendemos nos livros. Com folhas que vão do amarelo ao vermelho fogo, caindo e formando um tapete multicor. Fomos conferir essa maravilha em Magog-Orford, na região dos Cantons de l’Est, em pleno feriado de Ação de Graças, outra manifestação religiosa/cultural que saiu do nosso imaginário.

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UMA (NOVA!) VIDA EM NOVE MESES

“Foi como num piscar de olhos. Ao mesmo tempo parece uma eternidade.”

Estudos indicam (?) que 11 entre cada 10 nouveaux arrivants analisam dessa forma seus primeiros meses de suas novas vidas. Fazemos parte dessa estatística. Dia desses rompemos a barreira dos 9 meses. Nasceu o bebê! E o que dizer desse período?

Tive muito menos tempo de postar as nossas impressões iniciais aqui do que eu realmente gostaria. Isso por si só já indica o nível da agitação que a nossa vida experimentou até agora. Tudo conforme o esperado, mas sentir na pele é diferente e um pouco mais
desesperador. Nesses 9 meses posso dizer que avançamos muito em todos os sentidos. Temos todos os nossos documentos canadenses. Nossas crianças vão à garderie e à classe d’accueil e também já avançaram demais na questão do idioma e da sociabilidade. Estudamos francês e hoje nos comunicamos num grau que nos deixa orgulhosos. Agora essa linha de evolução cresce num ritmo um pouco mais lento. Se tivessemos mais oportunidade de contato com os nativos, fora do meio de trabalho, talvez nosso francês
estivesse melhor. Inglês? Quase não usamos, então ele enfraqueceu um pouco. Demora pra pegar no tranco.

Mudamos, mobiliamos uma casa inteira. Sozinhos. DIY. Aqui é assim mesmo. Vida sem empregada, sem vale-refeição. Sem medo de sair na rua, sem preços abusivos por serviços precários. Procuramos emprego, encontramos trabalho, ralamos. A gente conhece a cidade e vai ficando com a cara dela. Um pouco montréalais, comedor de poutine. Frequentador de piscina pública, ostentador de pôr-do-sol. Muita coisa talvez já tenha até caído na mesmice que nem notamos mais. Ainda não tivemos nenhum grande problema em relação ao
sistema de saúde, nosso maior temor antes de chegarmos, e espero que assim continue. Fizemos amigos, pessoas com as quais nos identificamos muito. Laços que tendem a se fortalecer com o tempo. Passamos pelas 4 estações do ano, e pela primeira vez em mais de 30 anos de existência podemos dizer o que são primavera, verão, outono e inverno de verdade.

A diversidade cultural às vezes ainda choca. Burkas, hidjabs, kipás. Sri Lanka, Filipinas, Colômbia. Soupe tonkinoise, pita, St-Hubert. Tudo no mesmo espaço, por todos os lados. Mas eu adoro observar toda essa multiplicidade. Abaixo a Charte de la Honte! Lojas, restaurantes, lugares para visitar. Ainda conhecemos pouco. Mas teremos tempo pra isso agora. A vida começa a mostrar sua rotina e tudo se encaixa. Uma nova vida de fato. Vejo como já estamos habituados às coisas boas daqui e como conhecemos aquilo que devemos evitar. Bancos, serviços públicos, ajudas sociais. Télé, festivais, sol até quase 21h no verão. Autoroutes, cul de sac, STM. Agora temos um carro mas o transport en commum, mesmo com seus defeitos, é muito melhor do que já vi por aí. Pensei que eu pudesse fazer 1 ano só no coletivo, mas outros fatores falaram mais alto. Planos que realizamos, promessas que temos que quebrar. Uma nova vida de fato.

Nosso bébé québécois vai crescendo. Conhecendo o mundo. Convivendo com coisas inesperadas mas não surpreendentes como itinérants de origem autochtone e o preconceito caché. Seremos sempre peixes fora d’água? Não sei. Mas tenho certeza que depende só das nossas escolhas. Foram 9 meses intensos mas que valeram a pena. Saudade do BR, não. Da da família e dos amigos, sim.

Planos? Muitos. Au fur et à mesure a gente chega lá. Planejando, batalhando e conquistando. Como tem sido. E a impressão de que ainda muita coisa vai acontecer. Estamos prontos!

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AINDA SOBRE EMPREGO

Pra passar a régua no assunto… por enquanto.

Os videos desse canal me foram muito úteis enquanto estive procurando emprego. Mesmo se as dicas são baseadas exclusivamente no mercado de trabalho francês eu pude tirar dali ótimas informações e adaptá-las às minhas necessidades ou às exigências québécoises.

Espero que possa ser útil pra vocês também.

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PROCURANDO EMPREGO: O LADO QUE NINGUÉM FALA

Acho interessante abordar um pouco o lado obscuro da imigração. Não pra jogar areia no sonho alheio, pelo contrário. Quando a gente decide imigrar, um clima de “já ganhou” toma conta da gente, um êxtase. É normal. A gente fecha os olhos pra possíveis obstáculos que teremos que superar, problemas que existem também aqui no chamado Primeiro Mundo. Então é legal lembrar aos que virão pra essa “Terra Prometida” que ela pode prometer também muitas surpresas e que é preciso descer da sua nuvenzinha.

Como o tema por aqui ainda é emploi, eu consegui anotar algumas coisas que ora me surpreenderam ora me fizeram parar pra refletir durante esses 4 meses em que meu trabalho foi procurar trabalho. Aliás, é hora de dizer também (pr’aqueles que ainda não sabem) que a minha batalha chegou ao fim e que eu ocupo um posto, feliz e cheio de desafios, desde o final de Agosto. Quem sabe um dia eu conto mais sobre meu trabalho. Mas, voltamos ao lado que ninguém fala…

Algo que eu percebi por aqui mas que fica só no âmbito da teoria quase-comprovada: seu nome e sobrenome vão fazer com que seu CV seja ou não levado em conta. Quero dizer que para algumas empresas, CV de imigrante não passa. Ainda mais se nele nota-se que você não tem ainda nenhuma experiência por aqui. Muitas empresas ainda não estão dispostas a contratar imigrantes. Isso eu ouvi de gente que trabalha na colocação de profissionais, numa feira de empregos/carreiras. Há um programa do Governo que trabalha pra melhorar essa condição mas ainda em passos lentos. Eu tenho certeza que a minha candidatura não foi aproveitada para algumas vagas que postulei por esse motivo. Talvez por fatores que devam ser levados em consideração, talvez não. Sim, eu estou falando de
preconceito, pra quem não acredita que aqui isso exista. E esse “filtro” com os árabes, por exemplo, é ainda maior. Acho que a essa altura do campeonato todo mundo já ouviu falar da bendita Charte des Valeurs Québécoises, não é?

Ninguém fala também das dificuldades práticas e psicológicas durante uma entrevista. Eu, que falo inglês há anos, tomei pau em 2 empresas no mínimo porque eu deixei a tensão dominar e ga-ga-ga-guejei demais. Ninguém fala que muitas empresas aqui exigem do candidato-imigrante um nível alto de proficiência em francês, mesmo que para um cargo raso, mas que a maioria dos funcionários nativos falam e escrevem um francês bem duvidoso. Ninguém fala que às vezes você chega lindão pra uma entrevista e o cara do outro lado da mesa te trata pior que o cocô do cavalo do bandido, quebrando suas pernas e te deixando desconfortável, como se o momento já não fosse desconfortável o suficiente. Nesse ponto acho que fui feliz pois tive mais entrevistas agradáveis que desagradáveis. Aliás, outra coisa que ninguém fala (essa ao menos é positiva) mas que aconteceu comigo: o fato de ser brasileiro me rendeu no mínimo umas 5 oportunidades. Não sei explicar o porquê mas é um bom sinal.

Hoje, depois de tudo, admito em voz alta: EU SUBESTIMEI AS DIFICULDADES PARA SE ARRUMAR O PRIMEIRO EMPREGO. Eu achava que por ter diploma em 2 áreas diferentes e longa experiência  noutra, que isso iria ser um facilitador, que eu ia poder jogar em todas e logo eu teria um empreguinho bom. Mas não é tão simples assim. Ou bem eu fazia uma coisa, ou bem eu fazia outra. Experiência conta muito. E ser capaz de persuadir seu interlocutor em francês e/ou inglês é mais difícil do que parece ser. E isso só vem com prática, e MUITA calma. É preciso foco e dedicação. E estar muito à vontade nos idiomas. Quando tomei consciência disso a coisa andou. Paguei o preço, por isso gosto de levantar a bola e fazer as pessoas pensarem nisso.

E claro, apegar-se a Deus ou seja la qual for a sua crença também ajuda muito, assim como o apoio da família.

Portanto, pra quem esta por vir, reflitam e preparem-se. Desejo sorte a todos, a mesma sorte e felicidade que venho tendo até aqui. Tem horas que é duro mas vale a pena!

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